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Trauma Balístico 01


Fundamentos de Balística

Balística é o ramo da física que estuda o comportamento e os efeitos mecânicos produzidos por projéteis. São três grandes grupos: a balística interior, que estuda os fenômenos que ocorrem dentro da arma de fogo até sua saída pelo cano; a balística exterior, que estuda os fenômenos desde a saída do cano até o objetivo; e a balística das lesões, que estuda os fenômenos produzidos pelos projéteis no alvo.

Os projéteis são classificados como primários, que incluem as munições das armas de fogo; secundários, que incluem dois subtipos: a) externos, são todos os objetos que se convertem em projéteis por efeitos dos projéteis primários, como rochas, material de construção, lascas metálicas produzidas com explosivos de fragmentação como bomba ou granadas; b) internos, depois que algum projétil penetrou o corpo, fratura e fragmenta estruturas ósseas, convertendo-as, por sua vez, em projéteis.

A balística de lesões, ramo da balística de efeitos, é de excelência dentro da ciência médica, já que proporciona ferramentas e fundamentos físicos para compreender o comportamento de um projétil de arma de fogo em sua entrada e trajetória no corpo humano. É errôneo, embora universalmente difundido, pensar que se pode prever a severidade da lesão baseando-se na velocidade do projétil empregada. É verdade que a velocidade do projétil é um fator importante, mas não único. A severidade das lesões esta determinada pelo coeficiente balístico ou poder de penetração (PP) do projétil, que se traduz como a habilidade que tem para vencer a resistência do meio através do qual se locomove. Este coeficiente balístico existe em função dos fatores que modificam a severidade das lesões.

A literatura médica registra que o fator mais importante é o potencial de lesão (PL), que se define como a medida da eficiência com que a energia cinética é transferida para o alvo. A energia cinética é a força que leva a bala e que, no choque com o alvo, se transmite em forma de energias mecânica e térmica, provocando destruição em seu deslocamento pelos tecidos do corpo humano. Calcula-se a energia cinética com a seguinte fórmula: EC = ½ (m x v2). A energia cinética (EC) é igual à metade da massa e (que quer dizer, o peso da munição entre a força de gravidade multiplicada pelo quadrado da velocidade).

Diz a fórmula que, ao duplicar o peso do projétil, se duplica a energia cinética mas, ao duplicar a velocidade, quadruplica-se a energia cinética resultante. Embora isso tenha levado a maioria dos autores a considerar a velocidade como o fator mais importante no mecanismo de produção das feridas, não é o único fator e, apesar de grandes velocidades, o dano resultante pode se ver modificado pelo coeficiente balístico. A compreensão destes mecanismos resultou em melhor manejo das lesões.

Outros termos técnicos que se empregam freqüentemente na literatura mundial: potencial de vulnerabilidade (PV) e potencial de impacto (PI). O potencial de vulnerabilidade dos projéteis é muito complexo para ser definido: é o poder que têm os projéteis para pôr fora de combate um indivíduo, ou o poder que têm os projéteis de produzir efeitos letais em um ser humano e em razão direta do potencial de penetração. Tal propriedade é características das armas de cano longo, como fuzis e metralhadoras.

O potencial de impacto é aquele que têm os projéteis para produzir uma comoção no indivíduo no momento de impacto e o obriga a suspender o que estava fazendo. Em uma luta corpo a corpo, não se trata de produzir uma ferida cujos efeitos comecem depois de alguns minutos, não se busca produzir uma ferida que não sendo precisamente mortal, produza sim imediatamente uma comoção tão forte, que seja capaz de fazer a pessoa cair. A potência de impacto é a qualidade das pistolas calibre 9 mm e 0,45”, posto que essas armas foram desenhadas para repelir agressões violentas a curtas distâncias.

Fonte: Extraído do livro Guerra Civil – Estado e Trauma. Luís Mir